terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pentecostes, mediunidade e Espiritismo

Pentecostes é uma festa ecumênica em louvor a Deus, chamada Festa das [sete] Semanas (Chag ha-Shavuot), Festa das Primícias (Chag ha-Bicurim), ou Festa da Colheita (Chag ha-Catsir), em hebraico, em referência ao Êxodo 23:16 – “Guardarás a festa da ceifa, das primícias do teu trabalho, do que semeias no campo; e a festa da colheita no fim do ano, quando do campo recolheres os produtos do teu trabalho.”, depois passando para o grego pentekosté, pelo latim pentecoste – “dia da cinquentena”, ou seja, o quinquagésimo dia após a Páscoa. Nas obras da Codificação Espírita, Allan Kardec apenas cita diretamente o Pentecostes em “A Gênese” [1], a respeito da promessa de Jesus da vinda do Consolador (João, 14:15-17 e 26). Diz o Codificador: “Se disserem que essa promessa se cumpriu no dia de Pentecostes, por meio da descida do Espírito Santo, poder-se-á responder que o Espírito Santo os inspirou, que lhes desanuviou a inteligência, que desenvolveu neles as aptidões mediúnicas destinadas a facilitar-lhes a missão, porém que nada lhes ensinou além daquilo que Jesus já ensinara, porquanto, no que deixaram, nenhum vestígio se encontra de um ensinamento especial. O Espírito Santo, pois, não realizou o que Jesus anunciara relativamente ao Consolador; a não ser assim, os apóstolos teriam elucidado o que, no Evangelho, permaneceu obscuro até ao dia de hoje e cuja interpretação contraditória deu origem às inúmeras seitas que dividiram o Cristianismo desde os primeiros séculos.”

Há menção das “línguas de fogo” aludidas nessa passagem evangélica em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [2], como os clarões que jorravam do Alto se afigurando energias inspiradoras citas à obra “E a Vida Continua” [3] de André Luiz, em seu capítulo 12, incitando à absorção e propagação das inspirações da Espiritualidade Superior.


Na brilhante obra “Mecanismos da Mediunidade” [4], tanto no prefácio intitulado “Mediunidade”, ditado pelo Espírito Emmanuel, quanto no capítulo 26, ditado por André Luiz, é referido o uso da mediunidade e seus resultados práticos pelos apóstolos, os quais tiveram os eventos mediúnicos tornados habituais justamente após a ocorrência no Pentecostes. Senão, vejamos:
  • “Todavia, onde a mediunidade atinge culminâncias é justamente no Cristianismo nascituro. Toda a passagem do Mestre inesquecível, entre os homens, é um cântico de luz e amor, externando-lhe a condição de Medianeiro da Sabedoria Divina. E, continuando-lhe o ministério, os apóstolos que se lhe mantiveram leais converteram-se em médiuns notáveis, no dia de Pentecostes (Atos, 2:1-13), quando, associadas as suas forças, por se acharem “todos reunidos”, os emissários espirituais do Senhor, através deles, produziram fenômenos físicos em grande cópia, como sinais luminosos e vozes diretas, inclusive fatos de psicofonia e xenoglossia, em que os ensinamentos do Evangelho foram ditados em várias línguas, simultaneamente, para os israelitas de procedências diversas. Desde então, os eventos mediúnicos para eles se tornaram habituais. Espíritos materializados libertavam-nos da prisão injusta (Atos, 5:18-20). O magnetismo curativo era vastamente praticado pelo olhar (Atos, 3: 4-6) e pela imposição das mãos (Atos, 9:17). Espíritos sofredores eram retirados de pobres obsessos, aos quais vampirizavam (Atos, 8:7). Um homem objetivo e teimoso, quanto Saulo de Tarso, desenvolve a clarividência, de um momento para outro, vê o próprio Cristo, às portas de Damasco, e lhe recolhe as instruções (Atos, 9:3-7). E porque Saulo, embora corajoso, experimente enorme abalo moral, Jesus, condoído, procura Ananias, médium clarividente na aludida cidade, e pede-lhe socorro para o companheiro que encetava a tarefa (Atos, 9:10-11). Não somente na casa dos apóstolos em Jerusalém mensageiros espirituais prestam contínua assistência aos semeadores do Evangelho; igualmente no lar dos cristãos, em Antioquia, a mediunidade opera serviços valiosos e incessantes. Dentre os médiuns aí reunidos, um deles, de nome Agabo (Atos, 11:28), incorpora um Espírito benfeitor que realiza importante premonição. E nessa mesma igreja, vários instrumentos medianímicos aglutinados favorecem a produção da voz direta, consignando expressiva incumbência a Paulo e Barnabé (Atos, 13:1-4). Em Tróade, o apóstolo da gentilidade recebe a visita de um varão, em Espírito, a pedir-lhe concurso fraterno (Atos, 16:9-10).”
  • “A prática da mediunidade não está somente na passagem do Mestre entre os homens, junto dos quais, a cada hora, revela o seu intercâmbio constante com o Plano Superior, seja em colóquios com os emissários de alta estirpe, seja em se dirigindo aos aflitos desencarnados, no socorro aos obsessos do caminho, mas também na equipe dos companheiros, aos quais se apresenta em pessoa, depois da morte, ministrando instruções para o edifício do Evangelho nascente. No dia de Pentecostes, vários fenômenos mediúnicos marcam a tarefa dos apóstolos, mesclando-se efeitos físicos e intelectuais na praça pública, a constituir-se a mediunidade, desde então, em viga mestra de todas as construções do Cristianismo, nos séculos subsequentes. Em Jesus e em seus primitivos continuadores, porém, encontramo-la pura e espontânea, como deve ser, distante de particularismos inferiores, tanto quanto isenta de simonismo. Neles mostram-se os valores mediúnicos a serviço da Religião Cósmica do Amor e da Sabedoria, na qual os regulamentos divinos, em todos os mundos, instituem a responsabilidade moral segundo o grau de conhecimento, situando-se, desse modo, a Justiça Perfeita, no íntimo de cada um, para que se outorgue isso ou aquilo, a cada Espírito, de conformidade com as próprias obras.”
No Livro dos Atos dos Apóstolos (02:17-18), o apóstolo Pedro disse, no dia do Pentecostes, relembrando aos habitantes, judeus ou não, de Jerusalém (Atos, 02:14), as citações de um profeta (Joel, 02:28-29): “Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos terão visões, e os velhos, sonhos. E sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão”. Kardec comenta essa passagem em “O Céu e o Inferno” [5], bem como em “A Gênese” [6], em mais de uma oportunidade, uma das quais [7] transcrevemos a seguir: “Como vimos (cap. I, nº 32), coincidindo com outras circunstâncias, o advento do Espiritismo realiza uma das mais importantes predições de Jesus, pela influência que ele forçosamente tem de exercer sobre as ideias. Ele se encontra, além disso, anunciado, em os Atos dos Apóstolos (...) É a predição inequívoca da vulgarização da mediunidade, que presentemente se revela em indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos e de todas as condições; a predição, por conseguinte, da manifestação universal dos Espíritos, pois que sem os Espíritos não haveria médiuns. Isso, conforme está dito, acontecerá nos últimos tempos; ora, visto que não chegamos ao fim do mundo, mas, ao contrário, à época da sua regeneração, devemos entender aquelas palavras como indicativas dos últimos tempos do mundo moral que chega a seu termo.” Ainda em “A Gênese” [8], Kardec comenta sobre o Espiritismo trazer a moral do Cristo, como tantas outras, “com a diferença de que, manifestando-se por toda parte, tanto se fazem ouvir na choupana, como no palácio, assim pelos ignorantes, como pelos instruídos”, elucidando o versículo 18 do capítulo 2 de Atos dos Apóstolos.

Se o Espiritismo é o renascimento desse Cristianismo dos primeiros tempos, então a popularização da mediunidade do Espiritismo, faculdade essa que se manifestou de forma ampla no Pentecostes, é uma relação possível de ser estabelecida entre o referido dia e a constatação do intercâmbio e inspiração dos Espíritos, que a doutrina codificada por Kardec nos ensina.


Leia também, neste blog, as postagens “Mediunidade na Bíblia”, “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores” e “Lições sobre o nascimento de Jesus”.


Bons estudos!

Carla e Hendrio

Referências:

1. KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. Capítulo XVII, item 42.
2. KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999. Capítulo XX, item 4.
3. XAVIER, Francisco Cândido. “E a Vida Continua”. 24ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1998. Capítulo 12.
4. XAVIER, Francisco Cândido. “Mecanismos da Mediunidade”. 14ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1995. Prefácio e Capítulo 26.
5. KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB. 1991. 1ª parte, capítulo X, item 8.
6. KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB. 1991. Capítulo I, item 45.
7. KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB. 1991. Capítulo XVII, item 61.
8. KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB. 1991. Capítulo I, item 56.

5 comentários:

  1. Amei, esses eclarecimrntos muito me ajudaram a entender coisa que eram obscuras. Grata

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  2. Muito bem esclarecido pelo seus estudos.

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  3. Informações valiosíssimas obrigado

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  4. Muito útil na preparação de um estudo... Agradeço pelo trabalho de vocês com votos de muita saúde e paz.

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