segunda-feira, 18 de abril de 2011

154 anos do Consolador Prometido

Em 18 de abril de 1857, o mundo tomou contato com o Consolador prometido por Jesus.

Participemos de um dia na vida de Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, através da história narrada pelo Espírito Hilário Silva [1] e dividida em três partes. A cada trecho, analisemos o que podemos apreender sobre a história do Espiritismo.
“I

Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, naquela triste manhã de abril de 1860, estava exausto, acabrunhado.
Fazia frio.
Muito embora a consolidação da Sociedade Espírita de Paris e a promissora venda de livros, escasseava o dinheiro para a obra gigantesca que os Espíritos Superiores lhe haviam colocado nas mãos.
A pressão aumentava...
Missivas sarcásticas avolumavam-se à mesa.
Quando mais desalentado se mostrava, chega a paciente esposa, Madame Rivail — a doce Gaby —, a entregar-lhe certa encomenda, cuidadosamente apresentada.”

Allan Kardec foi o pseudônimo adotado pelo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail para diferenciar a obra que se iniciava — a Doutrina Espírita — de seus demais livros já publicados sobre educação. Como surgiu a Doutrina Espírita, o Consolador Prometido?

Vamos retroceder alguns anos antes daquele da narrativa de Hilário Silva: França, 1854.

O professor Rivail, como todos na Europa, também ouve falar do fenômeno das mesas girantes (que consistiam em pessoas sentarem-se ao redor de uma mesa e, após algum tempo, a mesa movimentar-se — geralmente eram mesas redondas que giravam), através de um amigo chamado Fortier.

É no livro Obras Póstumas [2] que Kardec relata como foi esse primeiro contato com o fenômeno.

O Sr. Fortier, o qual, como o próprio professor Rivail, era estudioso do Magnetismo, disse-lhe:
“Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade.”
Rivail responde: — “É, com efeito, muito singular; mas, a rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam.”
Algum tempo depois, Rivail encontra-se novamente com o Sr. Fortier, que disse:
“— Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde.
E Rivail considera: “ — Isto agora é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé.”
Em 1855, o Prof. Rivail encontrou-se com Sr. Carlotti, também seu amigo, que falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora, com muito entusiasmo. Foi o primeiro que falou na intervenção dos Espíritos e contou tantas coisas surpreendentes que, longe de convencer, aumentaram as dúvidas do professor Rivail.

Em maio de 1855, o professor Rivail encontrou-se com o Sr. Pâtier, que lhe falou dos mesmos fenômenos que o Sr. Carlotti tinha se pronunciado, mas em tom muito diverso, já que o Sr. Pâtier era já de certa idade, muito instruído, de caráter grave, frio e calmo. Sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu no Prof. Rivail viva impressão. Nessa ocasião, o professor Rivail foi convidado a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, e ele aceitou.

Ele descreve em suas memórias:
“Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.”
A princípio, Rivail objetivava apenas sua própria instrução. E como Rivail estudava? Observemos como ele nos descreve:
“Levava para cada sessão uma série de questões preparadas e metodicamente dispostas. (...)”
Fica a pergunta para nós, em todas as áreas do conhecimento, não só no estudo do Espiritismo: será que levamos tão a sério um estudo, a ponto de comparecermos a uma reunião já com o tema estudado e com questões previamente formuladas, de modo a realmente nos instruirmos, aprendermos? Se ainda não fazemos, fica a sugestão, não nossa, mas do próprio Codificador...

Ele complementa que:
“Eu, a princípio, cuidara apenas de instruir-me; mais tarde, quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina, tive a ideia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de toda a gente. Foram aquelas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, constituíram a base de O Livro dos Espíritos.”
Por que chamamos Kardec de O Codificador do Espiritismo?
Codificar significa reunir em código (reunir as leis de modo ordenado). O Codificador é aquele que faz a codificação, ou seja, essa reunião em código.
E o que o Prof. Rivail fez? Exatamente isso:
  • Nunca formulou teorias pré-concebidas;
  • Observou atentamente;
  • Comparou;
  • Deduziu as consequências;
  • Procurou sempre a razão e a lógica dos fatos;
  • Interrogou os Espíritos, anotou e ordenou os dados que obteve.
Por isso é chamado Codificador do Espiritismo.

A Codificação Espírita está representada nas 5 obras publicadas por Allan Kardec, que são:
  • 1857 – O Livro dos Espíritos;
  • 1861 – O Livro dos Médiuns (desenvolvimento da 2ª parte de O Livro dos Espíritos – a parte experimental);
  • 1864 – O Evangelho Segundo o Espiritismo (desenvolvimento da 3ª parte de O Livro dos Espíritos — As Leis Morais);
  • 1865 – O Céu e o Inferno (desenvolvimento da 4ª parte de O Livro dos Espíritos — Das penas e gozos presentes e futuros);
  • 1868 – A Gênese (desenvolvimento da 1ª parte de O Livro dos Espíritos — das Causas Primárias — e explicação sobre os milagres e as predições).
Lembramos, também, outras obras que devem ser consultadas e estudadas por quem se interessa pela Doutrina Espírita, que são:
  • 1858 – Revista Espírita, publicação mensal que continuou dirigida por Kardec até sua desencarnação, em 1869;
  • 1859 – O Que É o Espiritismo (recomendado pelo próprio Codificador para iniciar o estudo do Espiritismo, antes mesmo da leitura de O Livro dos Espíritos, conforme sua orientação em O Livro dos Médiuns, Primeira Parte. Cap. III – Do Método, item 35) — Contém sumária exposição dos princípios da Doutrina Espírita e as respostas às principais questões ou objeções que os novatos se sentem naturalmente propensos a fazer.
Continuando a nossa história...
“II

O professor abriu o embrulho, encontrando uma carta singela. E leu:
‘Sr. Allan Kardec:
Respeitoso abraço.
Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois tenho fortes razões para isso.
(...) Há cerca de dois anos casei-me com aquela que se revelou minha companheira ideal. (...) no início deste ano, de modo inesperado, minha Antoinette partiu desta vida, levada por sorrateira moléstia.
(...) Sem confiança em Deus, sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas aflitivas de nosso século, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade...
(...) Namorara diversas vezes o [rio] Sena e acabei planeando o suicídio. ‘Seria fácil, não sei nadar’ — pensava.
Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia. Em madrugada fria, quando as preocupações e o desânimo me dominaram mais fortemente, busquei a Ponte Marie.
Olhei em torno, contemplando a corrente... E, ao fixar a mão direita para atirar-me, toquei um objeto algo molhado que se deslocou da amurada, caindo-me aos pés.
Surpreendido, distingui um livro que o orvalho umedecera.
Tomei o volume nas mãos e, procurando a luz mortiça de poste vizinho, pude ler, logo no frontispício, entre irritado e curioso:
‘Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito. – A. Laurent.’
Estupefato, li a obra — ‘O Livro dos Espíritos’ — ao qual acrescentei breve mensagem, volume esse que passo às suas mãos abnegadas, autorizando o distinto amigo a fazer dele o que lhe aprouver.”
Ainda constavam da mensagem agradecimentos finais, a assinatura, a data e o endereço do remetente.
O Codificador desempacotou, então, um exemplar de ‘O Livro dos Espíritos’ ricamente encadernado, em cuja capa viu as iniciais do seu pseudônimo e na página do frontispício, levemente manchada, leu com emoção não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra, em letra firme:
‘Salvou-me também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. — Joseph Perrier.’”

A segunda parte da narrativa de Hilário Silva aponta o severo impacto psicológico que a chamada “perda” de um ente querido, no caso a esposa do autor da carta, lhe trouxe, a ponto de pensar em desistir de viver.

Neste aspecto, a Doutrina Espírita traz preciosa contribuição. As Leis Divinas que o Espiritismo nos convida a estudar, apreender e perceber, nos mostra que a vida continua, bem como também continuam nossos laços de afeto com aqueles que amamos. Conforme nos orienta o Codificador em seus comentários à questão 936 de “O Livro dos Espíritos” [4]:
“Pelas provas patentes, que ministra, da vida futura, da presença, em torno de nós, daqueles a quem amamos, da continuidade da afeição e da solicitude que nos dispensavam; pelas relações que nos faculta manter com eles, a Doutrina Espírita nos oferece suprema consolação, por ocasião de uma das mais legítimas dores.
Com o Espiritismo, não mais solidão, não mais abandono: o homem, por muito insulado que esteja, tem sempre perto de si amigos com quem pode comunicar-se.”
O Espiritismo não nos ensina a sermos indiferentes à morte, insensíveis à desencarnação de quem amamos. Como lemos acima, o próprio Codificador a considera uma legítima dor. O que a Doutrina Espírita nos ensina é que, juntamente à dor, não podemos nutrir o desespero, a revolta, sentimentos de vingança e outras vibrações inferiores e deprimentes.

A esse respeito, o notável Francisco Cândido Xavier, na entrevista que concedeu ao programa “Pinga Fogo” de 28 de julho de 1971, também traz importantes esclarecimentos. Uma telespectadora do programa, por telefone, lhe endereçou o seguinte questionamento: “Perdi um filho há um ano. Choro muito. Quero saber se as minhas lágrimas estão prejudicando meu filho.” O apóstolo da mediunidade assim respondeu:
“Quando as lágrimas nascem do nosso reconhecimento a Deus pelos benefícios que recebemos; quando as lágrimas refletem a nossa saudade tocada de esperança, os nossos amigos desencarnados nos dizem que as lágrimas fazem a eles muito bem, porque elas são luzes no caminho daqueles que são lembrados com imenso carinho.
Mas quando as nossas lágrimas traduzem revolta de nossa parte diante dos Desígnios Divinos, que nós não podemos de imediato sondar; quando essas lágrimas retratam rebeldia, essas lágrimas prejudicam os desencarnados, tanto quanto prejudicam os encarnados também.”
Chico Xavier nos aconselha, em sua ponderação, a, quando nos chegar a dor da saudade de um amigo ou ente querido, seja encarnado e em viagem a trabalho para localidade distante, seja desencarnado e, portanto, também em viagem de volta à Pátria Espiritual e também sempre convidado a trabalhar em prol do Bem de seu próximo e de si mesmo, utilizemos nossa energia destinando a essa pessoa bons pensamentos. Desejemos que ela esteja bem, com saúde, feliz, cercada de bons amigos, aprendendo e se desenvolvendo sempre mais.

Através do Fluido Universal, nossos pensamentos podem chegar às pessoas que amamos; e os pensamentos de nossos entes queridos também podem chegar a nós. Para melhor os percebermos, mantenhamo-nos em Paz, atentos às oportunidades diárias de fazer o Bem, e nos sintonizaremos em vibração mais elevada, sentindo, assim, ondas de alegria e bem-estar chegando a nós, certamente enviadas por amigos, encarnados e desencarnados, que nos queiram bem. Façamos também esse mesmo Bem a eles; todos temos condições de fazê-lo.

Hilário Silva também fala a respeito da vontade que duas pessoas tinham de abreviar seu tempo de reencarnação, felizmente dissuadidas da ideia após lerem “O Livro dos Espíritos”. As Leis Divinas, estudadas pela Doutrina Espírita, nos demonstram que a vida continua após a morte do corpo físico. Ideias suicidas, usualmente, têm relação com a tentativa radical de acabar com uma dificuldade. Porém, se continuamos vivos, também continua vivo o desafio a superar; mais cedo ou mais tarde, nos depararemos novamente com a mesma lição, até que a aprendamos e superemos. Por isso, o Espiritismo nos ensina a inutilidade de buscar abreviar nosso tempo de reencarnação.

Nas palavras de Allan Kardec, comentando a questão 957 de “O Livro dos Espíritos” [4]:
“A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da Natureza. (...) Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos?
Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta, somente por constituir infração de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também (...) que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá, como no-lo ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas.”
O Espiritismo não traz um discurso moralista sobre o suicídio. Ele demonstra, por suas leis, que atentar contra a própria vida não nos afasta de nossas dificuldades. A Doutrina Espírita vai além, apresentando relatos de quem buscou essa fuga e comprovou o que a Doutrina ensina nas leis que abrange. A obra “O Céu e o Inferno”, em sua segunda parte, capítulo V, apresenta diversos relatos de suicidas e as surpresas e decepções que encontraram após seu gesto para abreviar sua vida encarnada.

Não é suicídio apenas o gesto radical contra a própria vida. Os vícios, tanto em substâncias químicas — lícitas ou não — como em emoções deprimentes (tristeza, revolta, reclamações, ira etc.), nos retiram energia vital, e são vistos como abreviação de nosso tempo de vida reencarnada. Lemos, à questão 952 de “O Livro dos Espíritos” [4]:
Comete suicídio o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas?
É um suicídio moral. (...) Há nele então falta de coragem (...), [além do] esquecimento de Deus.”
Esse raciocínio é ilustrado na obra “No Mundo Maior” [6], de André Luiz:
“Temos neste domínio um gênero de suicídio habilmente dissimulado, a autoeliminação da harmonia mental, pela inconformação da alma nos quadros de luta que a existência humana apresenta.”
Acompanhemos a terceira e última parte da narrativa de Hilário Silva...
“III

Após a leitura da carta providencial, o Professor Rivail experimentou nova luz a banhá-lo por dentro...
Conchegando o livro ao peito, raciocinava, não mais em termos de desânimo ou sofrimento, mas sim na pauta de radiosa esperança.
Era preciso continuar, desculpar as injúrias, abraçar o sacrifício e desconhecer as pedradas...
Diante de seu espírito turbilhonava o mundo necessitado de renovação e consolo.
Allan Kardec levantou-se da velha poltrona, abriu a janela à sua frente, contemplando a via pública, onde passavam operários e mulheres do povo, crianças e velhinhos...
O notável obreiro da Grande Revelação respirou a longos haustos e, antes de retomar a caneta para o serviço costumeiro, levou o lenço aos olhos e limpou uma lágrima...

HILÁRIO SILVA”


Dessa belíssima narrativa de Hilário Silva, do livro “O Espírito da Verdade” [1], podemos retirar muitos ensinamentos...

Focalizando nossa atenção, agora, na figura do Codificador, e todas as dificuldades enfrentadas por ele, verificamos que, não é porque nos dedicamos ao bem que estamos isentos ou imunes às dificuldades da vida. Elas ocorrem.

Ele mesmo nos narra, já desencarnado, através de um médium, conforme publicado na Revista Espírita de dezembro de 1869 [3], ou seja, 9 meses após a sua desencarnação, que ocorreu em 31 de março daquele mesmo ano, o seguinte:
“Eu sabia, ao consagrar-me à obra de minha predileção, que me expunha ao ódio, à inveja e ao ciúme dos outros. O caminho se achava inçado de dificuldades que de contínuo se renovavam. Nada podendo contra a doutrina, atiravam-se ao homem; mas, por esse lado, eu me sentia forte, porque renunciara à minha personalidade.
Que me importavam os esforços da calúnia; a minha consciência e a grandeza do objetivo me faziam esquecer de boa vontade as urzes e os espinhos da estrada.”
Às vezes podemos achar que o caminho dos missionários é privilegiado, que não há dificuldades a vencer... Como vemos, não é bem assim. Porém, a esperança e a satisfação pelo dever cumprido, essa noção do dever que Kardec apresentou encarnado, o fizeram seguir adiante e possibilitaram que nós hoje, pudéssemos estudar essa Doutrina de Luz!

Outro ensinamento que se nos apresenta da narrativa de Hilário Silva é em relação a nossa ação no bem. Como vimos, o missivista não tinha qualquer obrigação de escrever para Kardec, encadernar o livro... Mas o fez e de uma forma tão delicada! Foi uma gentileza de sua alma grata. Um gesto de bondade. Surge para nós a pergunta: qual deve ser o nosso empenho no bem? Kardec propôs questão semelhante aos Espíritos Superiores, que está registrada em “O Livro dos Espíritos” [4], questão 642:
Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?
Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”
O Espiritismo traz a proposta da Doutrina do Cristo, da renovação interior, do esforço para melhoria... Cabe perguntarmo-nos intimamente: estamos nos esforçando para fazer o bem, ou só não estamos praticando o mal? Estamos realmente aproveitando as oportunides de semear o bem que a vida nos oferece? Fazendo mais do que nossa simples obrigação?

É ainda o Espírito Emmanuel, no livro “Vinha de Luz” [5], que nos diz que:
“A caridade jamais se acaba.
O bem que praticares, em algum lugar, é teu advogado em toda parte.
Através do amor que nos eleva, o mundo se aprimora.”
Nós não temos noção do alcance de um bom gesto nosso. Kardec também, como vimos nessa narrativa, viu seu esforço servir para 2 seres humanos desistirem da ideia de suicídio e prosseguirem na vida, com mais coragem e resignação.

Podemos avaliar por nós... às vezes, um simples sorriso já ilumina nosso dia e nos ajuda a enfrentar com mais ânimo as dificuldades naturais do cotidiano. Um pequeno gesto de gentileza, uma palavra amiga... que bem nos faz!

E porque não sermos nós aqueles que fazem esse bem, pequenino bem que passa a ser nosso advogado em toda a parte.

E todo o mundo se eleva, todos saem ganhando, ajudamos a despoluir espiritualmente o planeta... Fazer o bem é uma atitude ecológica!


O Consolador Prometido por Jesus

O dicionário nos diz que consolar significa “aliviar ou suavizar a aflição, o sofrimento, o padecimento de.” Porém, o estudo da origem da palavra nos traz reflexões mais profundas sobre seu alcance.

Consolar, em sua origem, é a união de duas palavras do latim: cum + solis; ou seja, com + sol. O Sol é nossa referência de luz, calor e energia vitalizante. Assim, consolar é levar luz e calor ao coração; fazer com que as “tempestades” das provas da vida sejam suavizadas pela Luz e Calor norteadas por valores nobres, elevados, ou seja, da Espiritualidade Superior.

Jesus fala sobre o Consolador, conforme relata João, no capítulo 14, versículos 15 a 17 e 26 de seu evangelho:
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre,
o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós.
Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”
Jesus, o Espírito mais puro (ou seja, ungido; ou, em grego, Christós) que já esteve na Terra, sabia que não poderia trazer um conjunto muito amplo de conhecimentos; e já antevia que parte de seus ensinos sofreria distorções devido a interesses humanos. Por isso, o Consolador, o Espírito de Verdade, teria a dupla função de resgatar o Cristianismo em sua pureza original, bem como ampliar nossos conhecimentos.
“Muitas das coisas que vos digo ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis.” (João 16:12)
Kardec não tinha mediunidade ostensiva. Ele fazia seus questionamentos e um médium escrevente transmitia as respostas. Como lemos em “Obras Póstumas” [7], o Espírito que liderava as inteligências que trariam o corpo da Doutrina Espírita se denominou, para Kardec, “A Verdade”, e se dispôs a auxiliar o Codificador apenas 15 minutos por mês, o que ocorreu por um curto período, para Kardec não recorrer a ele à menor dificuldade [7]. Vemos que, mesmo Espíritos com grandes missões em suas mãos, não podem esperar que a ajuda, literalmente, caia do céu, pois não cairá.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [8], Kardec pondera:
“O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. (...) o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.”
Portanto, não por uma estimativa sua, mas pela análise criteriosa de milhares de mensagens, recebidas por via mediúnica em diversos lugares do mundo, apontando concordância entre os ensinos e a abrangência do estudo das mesmas Leis Divinas, Kardec conclui que a Doutrina Espírita é o Consolador prometido por Jesus, e que nos brinda com seus brilhantes ensinos há 154 anos.


Kardec: exemplo, e não ídolo

Os diversos missionários com que Deus nos presenteia, desde os mais conhecidos (Francisco de Assis; Zilda Arns; Mohandas Gandhi, Francisco Cândido Xavier e tantos outros), até os anônimos da mídia, mas que salvam milhões de vidas todos os anos, não podem servir para os colocarmos em um pedestal, distante de nós, e pensarmos que eles fizeram tanto porque são privilegiados, protegidos dos céus. Jesus, o melhor dos melhores exemplos, nos deixou a orientação de que devemos seguir seus passos, visando a evoluir tanto quanto ele mesmo, como lemos nas passagens a seguir:
“Eu disse: Vós sois deuses; E todos vós, filhos do Altíssimo.” (Salmos 82:06)

“Não está escrito na vossa Lei: Eu disse que vós sois deuses?” (João 10:34)

“(...) aquele que crê em mim, esse fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores (...)” (João 14:12)
A melhor forma de expressarmos nossa gratidão a Kardec, a seus colaboradores encarnados e aos Espíritos da Falange do Consolador, é a prática dos nobres valores ensinados pela Doutrina Espírita; é o nosso aperfeiçoamento como Espíritos imortais que somos, e nossa colaboração com a evolução de nosso semelhante e nosso próprio Planeta.


Leia também, neste blog, as postagens “Sobre As Mesas Girantes e o Espiritismo”, “Jesus, Kardec e Nós”, “Examinai Tudo. Retende o Bem.”, “Fluido Universal”, “A revolta”, “Evolução Espiritual de Longo Prazo” e “Espíritos missionários”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] XAVIER, Francisco Cândido. “O Espírito da Verdade”. 4.ed. Por Espíritos diversos. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1982. Capítulo 52.
[2] KARDEC, Allan. “Obras Póstumas”. 34.ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. Segunda Parte. “A minha primeira iniciação no Espiritismo”.
[3] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de dezembro de 1869”. 1ª Edição. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 2004. “Os Desertores”.
[4] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questões 642, 936, 952 e 957.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. “Vinha de Luz”. Pelo Espírito Emmanuel. Capítulo 168.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. “No Mundo Maior”. Pelo Espírito André Luiz. 20.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Capítulo 16.
[7] KARDEC, Allan. “Obras Póstumas”. 34.ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. Segunda Parte. “Meu guia espiritual”.
[8] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo VI (“O Cristo Consolador”), item 04.


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